27 de out. de 2011

Investigações do dia: um polimento nas lentes do olhar

Desde pequena, aprendi que as perguntas são quase vilãs da história, uma coisa que devíamos evitar em excesso. Com isso, fiquei meio confusa ao longo dos anos, porque quanto mais eu crescia mais perguntas surgiam sobre o mundo, sobre mim e os outros. Volta e meia, quando elas saíam pela minha boca, alguém me dizia: pára de perguntar, menina... vc é muito "perguntadeira"! Pois é, eu cresci com certo conflito interno, porque as perguntas não deixavam de se formar dentro, talvez não ganhassem tanta expressão fora - na faculdade, então, me lembro de ser super tímida com as perguntas. Me dava até frio na barriga de pensar em soltar uma delas. Depois fui trabalhar e, claro, arranjei uma profissão que incluísse as minhas perguntas que brotavam como nunca. Jornalista pode perguntar, né... espera-se que ele faça isso. Então, foi um bom casamento, em certo ponto, como início de partida. Com o tempo, foi dando aquela vontade de fazer outras perguntas, perguntas para mim mesma, perguntas para nada ou para alguém. Perguntas. Confesso que carregava em mim ainda aquela sensação de estar perdendo tempo com perguntas, lá no fundo, sabe. Aquela aflição por estar perguntando. Foi aí que eu conheci uma amiga perguntadeira de nascença, que me mostrou a poética da arte de perguntar.

O que eu vi? As perguntas são inspiradoras, quando são boas perguntas, aquelas que buscam mais estar do que ser e menos ainda ter. Sem resposta, jogadas no espaço que nutre, dá fluxo, encantam a alma. Parece que apertaram um botão aqui dentro, porque elas agora jorram da minha boca, sem culpa, e com alegria, sentindo todo êxtase que se tem quando a expressão se dá e se espalha pelo mundo.

Para não perder o costume, algumas investigações do dia:

Como eu movo a escuta em mim?

Como é falar para mim?

Como eu me vejo?

Como é ser vista por mim?

Eu me escuto e não "o outro me escuta". Eu me vejo e não "o outro me vê".

Um ajuste de foco, um polimento nas lentes do olhar.

26 de out. de 2011

O meu jardim

O quintal da minha casa é o mundo. Nele, eu plantei um jardim com margaridas, lírios, pitangeiras, uma jaboticabeira e muitos girassóis, rodeados de cerejeiras. As borboletas pousam de flor em flor, um riacho corre, o ar é tão puro e venta os cabelos, as pétalas das rosas, as copas das árvores, anciãs da terra que tudo brota.

No meu jardim, acontece de às vezes surgir bicho de goiabeira, praga de comer verde e até resto de coisa esquecida, mas eu logo levo água, deixo bastante sol entrar, ar fresco bater e lá está de novo ele, verdejante, sorridente, florindo por aí afora.

Onde o cuidado se dá

Cuidar. Recentemente, tive uma experiência única de estar na troca com alguém, que me revelou um lugar conhecido de berço. Posso dizer que hoje a clareza habitou melhor em mim, e eu pude olhar para este cuidado que este alguém me ofereceu de uma nova forma, com mais profundidade, eu acho. Sabe aquele lugar em que vc fala, e o outro não te escuta? Parece que o roteiro do encontro já estava escrito, e você só entrou nele para participar desta configuração já montada e definida. Esta foi a sensação neste encontro com este alguém. A pessoa fazia coisas, falava coisas, e nada que eu falasse ou que eu sentisse parecia chegar do lado de lá, no outro.

Uma sensação de impotência me veio no corpo, quando a outra pessoa revelou-se em outros tons. Veio, neste momento, sua caraterística certeira de ações e opiniões, era a onda de imposição que atravessava aquele encontro. Foi estranho estar ali, de novo, agora adulta. Estar ali sem ser ouvida e receber tantas informações e direcionamentos. A imposição é uma coisa.

Depois do encontro, fiquei reverberando aquilo de um jeito que, sei lá, não sabia se era irritação, pena, aceitação. Sabia que tinha me afetado bastante. Ainda não tenho respostas. Mas surgiram perguntas, boas perguntas como diz uma amiga: Como é estar em contato com este cuidado que impõe, onde não há escuta, troca de amor? O que move em mim neste encontro? Como é mover em mim este cuidado imposto? Porque uma coisa eu vi, é um cuidado, imposto sim, sem troca sim, mas quem oferece, por incrível que pareça, coloca-se no lugar de mover o cuidado que é possível nela e oferecer os frutos desta investigação ao outro. No caso, a mim. Ai, gente... muita coisa. Espero que a gente possa mover estes mundos internos cada vez mais.

Namaste.

A frase do dia

"Quietude e entrega, sem controle algum, vão abrir as portas da visão."